sábado, 31 de janeiro de 2009

João do Amaral Gurgel: 1926 - 2009


A indústria automotiva nacional ficou mais triste na noite da última sexta-feira, 30 de janeiro. O anúncio da morte de João Augusto Conrado do Amaral Gurgel foi o último ato de um empresário que realizou o maior sonho de sua vida: construir em série o primeiro automóvel 100% nacional.

Então estudante da Escola Politécnica de São Paulo, Gurgel ouviu de um de seus professores que “automóvel não se fabrica, se compra”. Formado na faculdade paulista e também no General Motors Institute, o jovem já alimentava a idéia de produzir veículos no Brasil.

Duas décadas após se formar, fundou a Gurgel Motores, que possuía sede na cidade de Rio Claro (SP). Seu primeiro sucesso foi o Xavante, jipe compacto que utilizava diversos componentes – incluindo o motor – emprestados da Volkswagen.

Com soluções interessantes, como a carroceria resistente construída de plástico com fibra de vidro e o freio individual nas rodas traseiras (que supria em parte a ausência da tração nas quatro rodas), o carro não demorou a ganhar fãs. Até mesmo o Exército brasileiro aprovou os carros, adotando-os em sua frota militar.

Gurgel era um homem idealista. Em 1974, apresentou o Itaipu, primeiro projeto tupiniquim de automóvel elétrico. Apesar das linhas estranhas, o compacto impressionava por conter tecnologias que ainda nem ganharam as ruas, como a possibilidade de ser recarregado em qualquer tomada doméstica. Para se ter uma idéia, a facilidade deve ser oferecida no Chevrolet Volt apenas dentro de um ano.

A marca fez fama com seus utilitários, como o Carajás, mas também se aventurou a fabricar automóveis de passeio.O XEF, três-volumes compacto equipado com o motor da Brasília, foi o pioneiro. Mais tarde, surgiu o CENA (sigla para Carro Elétrico Nacional), posteriormente rebatizado como BR-800.

Alguns dos defeitos do carro, como a potência parca, foram amenizados com o Supermini, lançado em 1992. Com personalidade própria, o subcompacto media apenas 3,19 metros e cabia em qualquer vaga.

Porém, naquela época a concorrência já sufocava a Gurgel, que vivia um momento crítico. A ameaça vinha das montadoras nacionais, que vendiam carros mais confiáveis e potentes a preços equivalentes aos produtos montados pelo empresário. Em junho de 1993, a Gurgel entrou com pedido de concordata, e faliu no ano seguinte.

Nos últimos anos, Gurgel lutou bravamente contra o Mal de Alzheimer, mas infelizmente acabou vencido. Aos fãs de automóveis, fica a lembrança de um homem a frente de seu tempo, que jamais se deixou abater pela descrença e pessimismo da grande maioria.

Descanse em paz, Gurgel.

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