Danke, #96!!!
Sempre acreditei que os carros têm sentimentos. Motivos para sustentar a teoria não faltam. Afinal, eles te levam para cima e para baixo, faça chuva ou sol. Não reclamam de nada e nem de ninguém, e pouco pedem em troca. São a materialização de horas de trabalho árduo, dos projetistas, dos funcionários da fábrica, de todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para que um punhado de metal, porcas e parafusos se transformassem em máquinas tão fantásticas.
O que dizer dos carros de corrida, então? O alter ego dos veículos de passeio, invejados pelas máquinas que sofrem com o trânsito pesado das metrópoles. “Ê, vida boa”, diriam os outros carros. Se eles pudessem falar, é claro - ainda que eu desconfie que eles podem, sim. Correr sem lenço nem documento em uma pista prontinha para ser devorada. Tem coisa melhor? Acho que não.
E eis que chegamos ao simpático DKW #96. Ah, esse carrinho... Sempre no fundo do grid, vendo os outros o ultrapassarem volta após volta. Um dos únicos representantes de sua época e fiel às suas raízes. Motor dois tempos, praticamente original. Abaixo essas monstruosidades chamadas “Puma AP”; afinal, motor moderno em carro antigo é covardia. E quem liga para velocidade? A vida é muito curta para passar tão rápido diante de nossos olhos.
Ver e, principalmente, ouvir a baratinha passar com seu ronco inconfundível é uma sensação indescritível. Faz até os mais novos – como eu – voltarem no tempo e imaginar as românticas corridas das décadas de 50 e 60, quando a equipe Vemag dominava os autódromos com carros não muito diferentes deste branquinho com uma bola preta estampada na porta.
Não demorou muito para me render aos encantos da “Deka”. Certamente, há algo de diferente neste carro. Algo que te faz pensar no verdadeiro sentido das corridas, que faz perceber que o espírito da competição não está apenas em vencer. Ora, troféus são apenas um monte de metal e nada mais. Felizmente, percebi que não sou o único a pensar assim. Como bem diz Flavio Gomes, o bravo piloto por detrás do volante, “é o único carro que tem torcida organizada, comunidade no Orkut e até um cara só para tirar o pó”.
E se o carro é o reflexo de quem o dirige, o piloto citado acima merece um capítulo a parte. Boa praça, bem humorado, irreverente, dedicado, um pouco teimoso vez ou outra. Tal qual a pequena maravilha que conduziu pelo asfalto do Templo Sagrado por seis anos. Costuma dizer que a legião de fãs arrebatados é por mérito do carro, e não do piloto. Todos sabem que a coisa não é bem assim.
Mas como toda história tem o seu fim, chegou a hora. Em um sábado ensolarado, 19 de julho, o bravo DKW partia para a sua última corrida. Era a hora da merecida aposentadoria, depois de mais de quatro décadas de bons serviços prestados. Cansado, porém jamais abatido, o valente motor dois tempos seguiu rumo a consagração. Nas arquibancadas, um público jamais visto nas etapas anteriores, apenas para prestigiar o carrinho e agradecer, de coração, pelas lições que esta dupla dinâmica nos ensinou ao longo dos anos.
Não foi uma corrida qualquer. A começar por um convidado especial, um DKW amarelo compareceu no autódromo paulista, como em um sinal de reverência e prestígio. O #96 largou em seu posto cativo e manteve seu ritmo pacato ao longo da prova. Se Pumas e afins se estapeavam lá na frente, os dois dekavês travavam uma bela batalha. Teve até ultrapassagem no freada da Reta dos Boxes. E uma festa digna de final de campeonato nas arquibancadas. Tudo para o #96.
Parafraseando um jornal mexicano (e fazendo uma livre adaptação), “corremos como nunca, perdemos como sempre”. Mas quem se importa com o resultado, afinal de contas? O dia foi muito mais importante do que um simples troféu.
Valeu, #96!
Até a próxima!
Vitor
1 Comentário:
olá amigo !!! meus sentimentos !!! ao 96 rss
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